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Uma Reflexão sobre Tradição
O Desafio de Encontrar o Entendimento
Prudência — uma arte a ser cultivada!
Já faz algum tempo que estava desejando escrever sobre esse tema. Para quem leu sobre minha história na espiritualidade verá que me aproximei de diferentes Tradições com o objetivo de incorporar elementos espirituais num claro projeto de autotransformação pessoal e não num turismo espiritual.
Existe um excelente livro, que li a pouco tempo, chamado Doutrina Secreta da Umbanda, sobre a Umbanda Esotérica fundada no Brasil pelo incrível W.W. da Matta e Silva (mestre Yapacany) que admiro e muito seu trabalho e sua doutrina, riquíssima em conhecimentos e sabedoria.
Gostaria de salientar alguns aspectos relativos, NÃO ao corpo doutrinário e de sabedoria, mas ao aspecto histórico do conhecimento que ele trata no livro Doutrina Secreta da Umbanda quando se refere a Kabbalah e ao conhecimento Védico. Desejo, portanto, com vocês refletir.
Tenho muitos livros de Matta e Silva e mais uma vez quero deixar registrado que sou seu grande admirador.
Fui iniciado no Yoga na linha Bhaktivedanta da sucessão discipular Brahma-Madhva-Gaudiya-Vaishnava-Sampradaya, além do estudo, prática e pesquisa desde 1995. Meu nome de iniciado é Krishna Kirtana Das (o servo amoroso (Das) que canta as glórias (Kirtana) do Supremo (Krishna)), quero deixar bem claro que isso não me faz melhor nem pior que ninguém!
A meu ver apenas formaliza uma aproximação respeitosa, sincera, honesta e humilde a essa incrível escola de pensamento védico e da sucessão discipular que a representa.
Há alguns anos, me aproximei, de igual modo, de uma incrível sucessão discipular de mestres Kabbalistas vinda de Rav Shimon Bar Yochai, Rav Issac Luria, Rav Yehuda Ashlag, Rav Brandwein e Rav Philip Berg onde venho estudando, praticando e pesquisando sobre Kabbalah, na linha Luriânica, e gostaria de levantar algumas reflexões.
Pois, os comentários de Matta e Silva pode gerar algum mal entendido e uma certa confusão para aqueles que não conhecem a Kabbalah e o conhecimento Védico, colocando a Kabbalah e o conhecimento Védico numa generalização que creio equivocada. Digo isso justamente por estudar Kabbalah e o Vaishnavismo e ter encontrado no texto, do livro citado da Umbanda Esotérica, afirmações que gostaria de esclarecer sem desmerecer o trabalho grandioso de Matta e Silva.
Outro ponto que quero esclarecer é que não é uma questão de certo ou errado, pois as afirmações dele no livro citado não entra nessa enquete, mas pretendo deixar claro a importância de não confundir o que ele afirma com o que vou revelar da Kabalah e do conhecimento Védico.
Antes, algumas reflexões como de costume.
Sempre me aproximei das Tradições espirituais com respeito e modéstia, pois sou um eterno aprendiz e um sincero buscador da Verdade.
Nessa busca algumas observações recolhi em relação a certa imaturidade de alguns que pertencendo a determinadas Tradições desrespeitava outras. Também percebi que alguns autores de livros tinham a mesma conduta, o que causa mais desentendimentos e mal entendidos do que se imagina.
Na verdade, constato que o ser humano ainda é muito sectarista (de visão estreita, intolerante ou intransigente). Tem muito ateu, agnóstico e pessoas que não se dizem religiosas com comportamento mais gentil e respeitoso do que muito dito religioso.
Assim, percebi a importância de não se atrapalhar essas condutas com a filosofia, ou com o corpo de conhecimento em si que determinadas Tradições carregam, transmitem e preservam.
Por outro lado, também há aqueles que não aceitam que um buscador “beba” do conhecimento de outras culturas espirituais de conhecimento. E ficam presos a uma visão limitada, pois um adepto de uma determinada Tradição não precisa abandonar seu escola de pensamento para conhecer outros pontos de vista, que pode vir a enriquecer sua compreensão sobre a própria Tradição que ele diz pertencer.
O ser humano é engraçado, ele quer liberdade mas não suporta a liberdade…do outro, principalmente… paradoxo.
Creio que fui, e sou, abençoado, pois conheci pessoas incríveis, nas diferentes Tradições, que me estimulam e incentivam na busca sincera pelo conhecimento e vivência do Espírito Imortal que sou, e somos!
A Tradição é sem dúvida um elemento importante, pois somos, como seres sociais, também resultado dela.
Na tradição espiritual, seja ela qual for, pode haver uma parte distorcida e degenerada com o passar do tempo e pelo contato com outras culturas, governos e sociedades.
Em paralelo existe, também, aquela parte mantida mais próxima do ideal, mesmo com o contato citado acima, o que se dá através de uma sucessão discipular autêntica, digo mais próxima pois o conhecimento deve ser atualizado nas gerações — como se diz no Yoga, deve levar em consideração tempo, lugar, circunstâncias e nível consciencial.
Além disso há, de tempos em tempos, aqueles que tem a missão de atuar dentro da Tradição como agentes de mudança sem alterar a essência da Tradição em si. Apenas adequando alguns pontos e aspectos internos com a época, modernizando, muitas vezes, questões já ultrapassadas, dogmas, técnicas, etc.
Isso acontece em todas que conheço e é importante que aconteça.
Quando digo — conheço — não significa que sou porta-voz ou representante, ou, mais ainda, um erudito do assunto, mas no sentido de, além de estudá-las, ter convivido (e conviver) em meio dela durante um tempo (às vezes mais ou menos tempo) a fim de sentir sua essência o mais próximo possível de minha própria essência.
Existe, também, a questão que na própria Tradição existir correntes de pensamento que são aparentemente discordantes em alguns pontos, isso se vê nas próprias escrituras que a representam, mas que na verdade mantém uma coesão quando vista de forma mais global, ou em níveis de compreensão dialeticamente congruentes quando observadas numa perspectiva da “big picture”.
Quando uma pessoa de uma Tradição fala algo de outra Tradição sem a conhecer de fato — i.e. sem ter interagido com ela a ponto de senti-la internamente, é apenas uma opinião baseado num aspecto limitado. Tem validade mas não veracidade.
Aqui preciso esclarecer alguns aspectos.
Uma Tradição pode gerar, e produz, varias correntes ou escolas de pensamento distorcidas da Tradição em si. Ou pode gerar, e produz, também escolas ou correntes de pensamentos concordantes ou representativas.
Quando digo Tradição quero dizer, consultando o dicionário básico de filosofia:
“Tradição (do latim traditio, tradere = “entregar”, “passar adiante”) é a continuidade ou permanência de uma doutrina, visão de mundo, costumes e valores de um grupo social ou escola de pensamento.
Para muitas religiões, a tradição é o fundamento, conservado de forma oral ou escrita, dos seus conhecimentos acerca de Deus e do Mundo, dos seus preceitos culturais ou éticos.”
Médiuns, Mentores e Verdadeiras Reflexões
Uma outra questão importante é quando um médium recebe uma mensagem ou um corpo de conhecimentos, e, o médium e seguidores tomam aquilo como verdade absoluta, ou verdade inquestionável.
Muitos deixam de estudar, de questionar e de conferir apenas porque aquele médium ou mentor tem um nome…não raro, e muitos deixam passar essa questão de forma despercebida, o mentor diz coisas conflitantes, ou discordantes apenas para forçar o aprendiz a andar por si mesmo…
Atualmente isso acontece e muito…
Por isso, o trabalho de Allan Kardec é tão importante e serve de referência de estudos e pesquisas nessa área, pois o mesmo além de ser muito erudito, experiente e maduro deixou as bases para uma boa interação com os espíritos, independente do espiritismo e dos espíritos. Um exemplo é o excelente Livro dos Médiuns.
Não seria o próprio espirito um ser em evolução? E, portanto, sujeito a limitações e até equívocos?
O médium se transforma em ser evoluído, sem a necessidade de passar por um árduo trabalho de transformação pessoal (comum a todos os buscadores), só porque é um meio através do qual um espírito ou mentores, ou seres de outros orbes se comunicam?
Não estaria o espírito e o médium (todos somos espíritos!) sujeitos as mesmas leis universais e necessitados de evolução ética-moral-consciencial?
Allan Kardec, Robson Pinheiro, Leonardo Möller, Srila Prabhupada, Caitanya Mahaprabhu, Adenauer Novaes, Djalma Argolo, Rav Berg, e, o próprio Jesus, e tantos que conheço afirmam e confirmam a seguinte cautela e prudência:
— Da necessidade, de que apesar dos espíritos ou seres extraterrestres (ou o nome que se queira dar) falarem e transmitirem mensagens, ou mesmo conhecimentos (que muitas vezes são atualizações de conhecimentos já presentes nas Tradições, apenas com uma linguagem mais moderna), temos que nos munir também de conhecimentos, muito estudo, pesquisa, questionamentos e bom senso, e, com a prudência da crítica e da reflexão confrontá-los naquilo que preciso for. Senão, ficamos apenas no “aceite o que digo, dizendo…amém”.
Absoluto só o Absoluto! Todo o resto é absolutamente relativo.
Sim, existe boa informação e cada vez mais a comunicação extrafísica multidimensional e a transcomunicação será cada vez mais disseminada, e isso muito é bom! A ciência cada vez mais se aproxima do dia que a tecnologia será capaz de estabelecer essa comunicação.
Nós como Espíritos Imortais compartilhamos da natureza do Absoluto transcendental.
Mas como seres humanos (desencarnados ou não), alienígenas ou não….somos dominados por diferentes véus ou corpos que nos limitam revelar nosso próprio espírito imortal que somos.
A vida humana é um incrível movimento e oportunidade para o despertar dessa natureza transcendental.
As diferentes culturas, escolas de pensamento, ciências, Tradições…são diferentes formas do Criador se manifestar, assim como o é a Natureza e o Universo (ou melhor Multiverso).
As pessoas são únicas e unas mas não iguais e as diferenças necessitam de diferentes caminhos que ao final levam ao mesmo destino — à si mesmo como espírito imortal, e, consequentemente, ao Criador.
Há caminhos que aparentemente os distanciam da Verdade, pois levam a ignorância, a dor, ao sofrimento, as trevas…mas, depois de muito sofrimento a entidade viva desperta para a Luz e começa, passo à passo, a empreender um caminho que o conduza para o Espírito Imortal que é, e na comunhão suprema com o Criador através do Amor Transcendental.
O universo (assim como o Ser) é multidimensional, pois a Lei também o é.
Não temos o poder do absolutismo de conceitos e definições, mas temos o poder de nos iludirmos pensando que temos esse poder.
Tendências Humanas
No Yoga há um ensinamento interessante que diz que nós seres corporificados temos a tendência a enganar e ao autoengano, a iludir e nos iludir, a mentir e acreditar em mentiras, pois temos sentidos e mentes limitados, mas ao mesmo tempo podemos abandonar pensamentos, posturas e crenças limitantes para poder revelar e compartilhar Luz.
Uma das meditações Kabbalistas, contida na oração do Ana Bekoach é o treino do esquecimento dos pensamentos limitados e limitantes pois o objetivo é tornar-se como Deus, revelando nossa verdadeira face espiritual.
O Yoga e a Kabbalah (assim como a espiritualidade de verdade e não uma questão de religião) se baseiam em testar o conhecimento recebido na prática, na vivência, além do desenvolvimento das capacidades, potencialidades e de habilidades para uma autotransformação pessoal refletida no comportamento ético-emocional-consciencial. Não se trata de forma alguma em transformar pessoas em “santinhos” , “boazinhas” ou “perfeitinhas” mas sim em pessoas autodeterminadas.
Quando num livro encontro citações, ou um espírito (uma entidade) que diz coisas que vai de encontro a prática, vivência ou Tradição do outro, me questiono, com honestidade e de forma sincera, se conheço o que é questionado a partir de uma leitura reflexiva dos referenciais do outro.
Interajo com aquele, que pertencendo ao que julgo equivocado, para entender sua perspectiva?
Ou julgo, uma filosofia ou Tradição, apenas pelos equívocos dos iniciantes ou pelos equívocos de caráter dos que se julgam lideres?
Ou ainda, de ditos mentores?
Eu procuro as mentes referenciais que realmente representam aquela Tradição?
Eu procuro através dos escritos e/ou interação com estes representantes, que demonstram na prática e no comportamento um equilíbrio ético-moral-emocional, sem se dizerem evoluídos mas, sim, viajores e buscadores pela Verdade, uma interação genuína?
Até que ponto sou capaz de julgar uma outra Tradição só por que um espírito ou mesmo uma outra Tradição julga-a de forma controversa?
Uma coisa eu sei: quanto mais eu penso saber, sei que que devo aprender mais ainda, pois pouco sei do que penso saber…
Não rejeite, nem aceite nada cegamente
Eu tenho o seguinte hábito, adquirido dos tempos das sessões científicas na FIOCRUZ, quando alguém diz algo que vai de encontro ao que estudo, estudo mais ainda para achar ressonância ou não nas afirmações, estudo a doutrina que diz ser discordante da minha para ver se a pessoa não se equivocou na própria interpretação, ou se foi eu mesmo.
Um exemplo: Moisés é muitas vezes mal visto, mal compreendido, por passagens no Antigo Testamento aparentemente contraditórias a partir de algumas perspectivas não judaico-cristãs (embora muitos cristãos também não consigam um entendimento coerente)…assim, quando me deparei com isso o que foi que fiz?
Me aproximei de judeus altamente cultos e de Kabbalistas também altamente cultos e comecei com eles a estudar o Antigo Testamento, a Kabbalah e o Zohar e já se vão alguns anos…o que descobri?
Um Universo de muita Luz!
É incrível como eles tem uma visão, interpretação e vivência completamente diferente dos cristãos religiosos…e de muitos ditos espiritualistas…ou seriam como bem diz Robson Pinheiro — esquisotéricos e/ou espiritólicos?
Kabbalah e…Cabalas…
A própria Kabbalah é um exemplo de muita má interpretação e confusão, apesar de ter sido revelada na forma mais mística ao povo Hebreu através de Abraão, há cerca de 4000 anos (mas já existia antes dele), codificada por ele no livro Sefer YetzIrá, transmitida a partir daí de forma esotérica e iniciática a um seleto grupo de kabbalistas, e, de forma religiosa ao povo Hebreu. Com o passar do tempo foi desenvolvendo variantes e vertentes (inclusive degenerações).
A Kabbalah surgiu como poderosa ferramenta espiritual para se decodificar a Torah que é considerada um código pelos grandes sábios judeus e kabbalistas (a Kabbalah está presente no judaísmo mas transcende o próprio judaísmo).
A Kabbalah e a filosofia do Zohar (que é a alma da Kabbalah) prosseguiu numa sucessão discipular, de forma oral, até Rav Shimon Bar Yochai (discípulo de Rav Akiva), há um pouco mais de 2000 anos, porém o conhecimento do Zohar “sumiu” por causa das perseguições romanas aos judeus e Kabbalistas e da proibição ao estudo da Torah no séc. II.
O grupo de discípulos de Rav Shimon, assim como seu filho Rav Elazar, sabiam que seu mestre tinha revelado a necessidade do ocultamento dessa sabedoria que tinha ganhado então a forma escrita pela primeira vez no incrível manuscrito conhecido como Zohar — o Livro do Esplendor.
Rav Shimon sabia que o Zohar (o mais completo conhecimento da Kabbalah, sua própria alma) deveria ser revelado num futuro distante quando as pessoas estivessem em condições de recebê-la por causa de condições mais propícias de abertura de consciência, e mais esclarecidas, possibilitando que uma massa crítica pudesse, então, a partir dessa revelação, transformar a si mesmo, o mundo e alcançar a redenção.
Rav Moshê de Leon no séc. XIII redescobriu e recompilou, de forma magistral, esse antigo tratado na Espanha, o que muitos atribuem, por causa disso, ser ele o autor do Zohar. Esse braço do judaísmo também ficou conhecido como Sefaradi.
Rav Isaac Luria, o Ari, no séc. XVI, revolucionou o estudo do Zohar, considerado um profundo e “gigante” místico Kabbalista ele deixou, através de seu grande discípulo Rav Chaim Vital, os principais e profundos comentários do Zohar. Sua importância foi tanta que a partir de então nasceu uma importante corrente mística conhecida como Kabbalah Luriânica que salienta principalmente o lado mais ativo e meditativo da oração, buscando uma profunda transformação pessoal e, por conseguinte, do mundo.
Mas foi com Rav Yehuda Ashlag que a Kabbalah começou a conquistar o mundo de fato, pois no ano de 1922 foi aberto o Centro de Estudos da Kabbalah. Rav Ashlag traduziu o Zohar do aramaico para o hebraico além de realizar importantes e fundamentais comentários kabbalisticos. Também revelou toda a Luz e mistério dos escritos de Rav Isaac Luria possibilitando novas compreensões e revelações.
Rav Brandwein, considerado o mais importante e íntimo discípulo de Rav Ashlag, possibilitou que seu discípulo Rav Philip Berg ofertasse ao mundo toda essa riqueza de sabedoria dos estudos da Kabbalah através do Kabbalah Centre e hoje milhares de pessoas no mundo estão tendo a oportunidade de estudar e disseminar a sabedoria luminosa da Kabbalah.
Atualmente sua esposa e discípula Karen Berg segue como uma verdadeira heroína, não só na continuidade do ensino e propagação da Kabbalah mas revelando ainda mais Luz proveniente desses eminentes mestres Kabbalistas.
Michael Berg, filho e discípulo de Rav Berg, um verdadeiro guerreiro, realizou a tradução monumental do Zohar para o inglês, mantendo o aramaico original, em 23 volumes da mais pura sabedoria Kabbalista.
Portanto, para aqueles que acreditam que a Kabbalah é adivinhação, jogo de cartas, simbologia mágica, ou qualquer outra coisa que não a Kabbalah real, deveria se aproximar dessa incrível e vasta literatura com sua filosofia, além de sua milenar corrente discipular, e assim desmitificar de vez essa idéia equivocada, deixando que a Luz do Zohar (o Esplendor da Luz Infinita do Criador) brilhe forte na consciência e no coração de cada um que bebe dessa água viva.
Se enganam aqueles que acham que estudar livros Kabbalísticos durante anos vai transformar uma pessoa em Kabbalista, isso é insuficiente. Pode-se até começar pelos livros, e, geralmente é assim (eu comecei assim), mas durante o percurso de estudo sente-se a necessidade de estar em contato direto com a cultura em si, e cultura é feito de gente, lugares, cheiros, sentidos e sentimentos, alimentos…assim a viagem fica bem mais interessante e rica em experiências e vivências.
No conhecimento profundo do povo judeu e Kabbalista a Torah escrita é acompanhada da Torah oral, desde sua revelação a Moisés, composta pelo Talmud (Mishná, Tossafot e Guemará), Zohar e Kabbalah, sem a Torah oral fica praticamente impossível decodificar os profundos conhecimentos espirituais e universais contidos na Torah escrita.
Rav Shimon bar Yochai dizia que sem a Torah oral, sem o Zohar e a Kabbalah era preferível que ninguém estudasse a Torah, pois isso poderia acarretar graves consequências negativas decorrentes da má interpretação e aplicação da Lei (conhecimento espiritual).
A Kabbalah citada na Umbanda Esotérica (Tradição que revela uma profunda ciência, filosofia e espiritualidade que merece todo o respeito e estudo), citando uma tal Kabbalah hebraica (?!?!) degenerada, não tem nada a ver com a Kabbalah proveniente da sucessão discipular de Rav Yochai, Rav Luria, Rav Ashlag, Rav Brandwein e Rav Berg isso é fato.
Quem confunde uma com a outra é porque nunca se aproximou dos escritos destes grandes mestres Kabbalistas citados aqui, além dos relatos que comprovam que tais mestres personificaram a verdadeira sabedoria da Kabbalah no comportamento (vale conferir o livro Educação de um Kabbalista). Os comentários, equivocados, podem ser válidos mas carecem da mais profunda veracidade.
Eu não confundo pessoas com limitações e equívocos com o corpo de sabedoria que essa Tradição representa. Nem desprezo o potencial e trabalho dessas pessoas, porém não posso ficar impassível quando vejo que há pontos que destoam.
Apesar de algumas vertentes se desvirtuarem da Tradição Raiz, como acontece em todas as coisas que envolvem humanos, não se pode colocar todas no mesmo balaio sem cometer graves equívocos.
Bom, se conhece a árvore pelos frutos, como diz o divino mestre Jesus.
Por isso a recomendação de orar e vigiar!
Ave Cristo!
Muitos Kabbalistas consideram Jesus (Yeshua) a personificação do verdadeiro Kabbalista, a personificação da Luz da Torah. E, por falar no Cristo podemos citar o seguinte: muito já se escreveu sobre Jesus, e foi muito mesmo, com as mais diferentes concepções e entendimentos, e até fantasias das mais escabrosas…
Mas eu, particularmente, faço o seguinte quando quero saber mais sobre o Cristo — me aproximo dos Evangelhos e as cartas de Paulo.
Eu sei, eu sei da problemática das traduções…
Quando surge um ponto que me parece controverso o que faço então?
Uso o bom senso sempre, e, me cerco das várias traduções bíblicas que tenho, dos léxicos e dicionários hebraico, aramaico e grego que possuo, dos livros sobre tradução biblica de Severino Celestino (uma referência no assunto), além da ajuda dos textos de Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo e a Gênese (principalmente destes dois, dos cinco que ele deixou).
MAS os Evangelhos continuam sendo a melhor referência sobre o Cristo que vejo. Essa é a minha opinião, isso serve para mim. Não estou transformando isso em lei! Ao contrário de muitos que vejo…
Ah…o que mais tem hoje em dia é de doutores da lei!
Deixe-me lembrar novamente meu propósito aqui: levantar reflexões e sair da zona de conforto!
Claro que sei que há boas referências escritas sobre a contribuição do aumento do conhecimento e compreensão do Cristo (e não me privo delas), mas por causa disso não podemos agora desmerecer o estudo dos evangelhos.
Rama, Ramayana e Valmiki
Para entender Rama, o Ramayana e Valmiki devemos nos aproximar dos Vedas, das tradições provindas dos Vedas, senão caímos num abismo de especulações infinitas e infrutíferas.
O livro a Doutrina Secreta da Umbanda também cita Rama e os Vedas de modo particular e limitado, pois pode induzir que as fontes originais, que transmitem esse conhecimento, estão, no mínimo, equivocadas. Eu realmente não concordo com essa visão pois existe cinco sucessões discipulares (Guru-parampara-sampradayas) autênticas (que não são os chamados Darshanas) provenientes dos Vedas (quatro vaishnavas e uma mayavada) que são:
- MADHAVA GAUDYA SAMPRADAYA
- RAMANUJA SAMPRADAYA
- VISHNUSWAMI SAMPRADAYA
- NIMBARKA SAMPRADAYA
- SHANKARA SAMPRADAYA
Sucessões discipulares através das quais recebemos o conhecimento sobre o Ramayana, de Rama e de Valmiki muni, que faz parte do que se chama Tradição Védica. Devo acrescentar uma importante informação antes, de que um grande mestre conhecido como Sri Caitanya Mahaprabhu, considerado o maior reformador vedanta-vaishnava, conseguiu unir todas as sucessões discipulares nele. Tudo começou quando ele aceitou a ordem de sannyasa de Keshava-Bharati que pertencia à Shankara-sampradaya para a partir daí realizar a maior revolução do pensamento Vedanta.
Sri Caitanya Mahaprabhu aceitou sannyasa (ordem de vida renunciada) para conseguir atrair os mayavadis ao vaishnavismo como descrito no Caitanya-Caritamrta e no Sri Caitanya-Bhagavata (biografias de Sri Caitanya).
Um tempo depois, após esse evento, Sri Caitanya aceitou, como guru-vaishnava, Isvara Puri que era discípulo de Madhava Puri (também conhecido com o Madhavacarya Puri) da sucessão numero 01 descrita acima.
Sri Caitanya pregou a filosofia achintya-bedhabedha-tattva que descreve que o Senhor Supremo, por Sua inconcebível potência transcendental, é simultânea e inconcebivelmente (acintya) igual (bhedha) as Suas criações e criaturas e diferentes (abheda) delas. Como descritas nos Brahma-sutras e no Bhagavata-purana e sintetizada no Bhagavad-Gita.
Sri Rama ou Ramachandra é considerado pelas escrituras védicas como a 18° avatar de Vishnu. Segundo a Tradição védica ele apareceu num tempo inconcebível para nossos cálculos humanos e por isso tanto pesquisadores querem determinar sua existência ou à uma fábula ou à um tempo mais recente. Porém, o mais importante do que isso é o que podemos aprender com a história que nos é apresentada por Valmiki Muni, pois, os ensinamentos daí advindos, é útil tanto para os descrentes quanto para os que aceitam a existência de seu reinado.
Para se extrair todo o néctar possível de sabedoria e de Luz do Ramayana, é preciso, sem dúvidas, se aproximar da linhagem discipular, para receber adequadamente seu conteúdo divino.
Quando isso não acontece é gerado toda uma especulação fantasiosa com roupagem florida de ditos estudiosos ocultistas que desejam revelar algo inédito, algo antes nunca revelado.
Muitos destes estudiosos dizem ter contato com espíritos superiores, seres de outras galáxias, ou que em desdobramento acessaram arquivos akhásicos e etc.
Tudo bem, direito deles aceitarem a sabedoria assim.
Mas… me pergunto será que grandes almas não encarnaram aqui, sendo, também, responsáveis por revelarem, transmitirem e preservarem esse mesmo conhecimento?
É desmerecer nossa capacidade e a capacidade de seres evoluídos como os avatares, os bhagavatas, os boddhisattvas, os tzadikim…de nascerem aqui e continuarem na proposta de ensino na prática.
As mesmas verdades, os mesmos conhecimentos que são revelados no Ramayana o são também no Bhagavata-purana (o comentário original do vedanta-sutra escrito pelo autor dos Vedas Badarayana Krishna Dvapayana Vedavyasa), no Bhagavad-Gita entre outras escrituras védicas.
Segundo os Vedas Ramacandra descende da dinastia de “Devas e Reis” solares (na linguagem de hoje, seres de outros orbes ou simplesmente alienígenas).
Sri Krishna no Bhagavad-Gita (4.1-3) diz a Arjuna: “O Bem-aventurado Senhor disse: Eu instruí esta ciência imperecível do relacionamento do ser com o Supremo ao Deus do Sol, Vivasvan, e Vivasvan a instruiu a Manu, o pai da humanidade, e Manu, por sua vez, a instruiu a Ikshvaku. Essa ciência suprema foi assim recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na desta maneira. Mas com o passar do tempo a sucessão se rompeu e por isso a ciência como ele é parece estar perdida. Esta antiquíssima ciência da relação com o Supremo é falada hoje por Mim a você porque você é meu devoto bem como Meu amigo; portanto, você pode compreender o mistério transcendental desta ciência.”
Ramacandra, assim como Krishna, personifica esse conhecimento descrito no Ramayana e no Bhagavata-purana (também conhecido como Bhagavatam).
Há cerca de 5000 anos Shukadeva Goswami (o filho de Vyasadeva) relatou no Bhagavatam (o conhecimento sobre todo o conhecimento universal e sobre a nossa relação com Deus), pela primeira vez, ao grande Rei Maharaj Parikshit o seguinte: “Ó Rei Parikshit Maharaj, as atividades transcendentais do Senhor Ramacandra foram descritas por grandiosas pessoas santas que viram a verdade. Como ouviste repetidas vezes a respeito do Senhor Ramacandra, o esposo de Mãe Sita, farei apenas uma descrição sucinta dessas atividades. Por favor, presta atenção.” Bhagavatam 9.10.3
Para finalizar essa questão do Ramayana, que foi revelado a Valmiki Muni após muitos anos de meditação, Srila Prabhupada cita no seu comentário ao Bhagavatam (12.13.4-9) que Srila Jiva Goswami, no séc. XVI, citando o Matsya Purana revelou o seguinte: “Depois de compilar os dezoito Puranas, Vyasadeva, o filho de Satyavati, compôs todo o Mahabharata, que contém a essência de todos os Puranas. Ele consiste em mais de cem mil versos e está repleto de todas as idéias dos Vedas. Há também a narração dos passatempos do Senhor Ramacandra, falados por Valmiki — uma narração originalmente relatada pelo Senhor Brahma em um bilhão de versos. Narada Muni mais tarde resumiu este Ramayana e relatou a Valmiki, que depois o apresentou à humanidade.”
Cada um segue o caminho que desejar, livre arbítrio nos é dado.
As Tradições são referências importantes, mas como espíritos imortais que somos, temos também que saber transcendê-las (mesmo fazendo parte dela(!!!)) sem desmerecê-las, não podemos é nos colocar em caixas e achar que a verdade está somente ali, a Verdade é Transcendental e inconcebível.
O Bhagavad-Gita (18.66) é bem claro na sua conclusão: apenas abandonando todas as formas de religião e dharmas e entregando-se ao Supremo baseado num verdadeiro sentimento amoroso espiritual é possível alcançá-lo.
A questão é compreender que abandonar não é negar, nem subestimar, nem desmerecer, nem maldizer. E sim, é simplesmente utilizar as ferramentas (disponibilizadas pelas Tradições) e prosseguir quando se alcança níveis mais elevados de realização, é como utilizar um barco para cruzar o rio e alcançar a outra margem, ninguém em sã consciência irá carregar o barco nas costas depois de cruzar o rio.
Quando se alcança o sentimento de Amor Puro (durante as vidas de aprendizado e vivências) num relacionamento Transcendental com o Supremo abandona-se completamente a racionalidade, que é uma poderosa ferramenta mas não há racionalidade suficiente no universo que possa compreender o que é a vivência desse relacionamento, pois é preciso vivência-lo, sentir Deus.
O progresso é passo à passo, aprendizado à aprendizado, experimentado na prática, do erro e acerto…
Quem vivencia o amor sabe que a racionalidade tem limites — como diz a sabedoria popular: não há razão que explique o amor!
Mas através da razão, da fé raciocinada, podemos alcançar o sentimento espiritual adequado.
Abaixo alguns dos livros utilizados como referência nesse post.
Creio que todo esse texto pode ser explicado por um simples e divertido video, veja abaixo e chegue a sua própria conclusão.
Grande abraço!